Bate-papo com a arquiteta, design de interiores e influencer digital Marília Zimmermann.
As casas deixaram de ser apenas o refúgio após um longo dia de trabalho e passaram a acolher 24 horas do dia os seus moradores. Com a pandemia, estamos presenciando transformações em todas as áreas e dentro do morar não é diferente, pelo contrário, nunca se valorizou tanto o espaço onde vivemos, quanto agora. Por isso e para entender um pouco mais sobre esse novo morar, tendências e muito mais, conversamos com a arquiteta e designer de interiores Marília Zimmermann que, igualmente, faz o maior sucesso no Instagram com mais de 342 mil seguidores.
Atualmente, o que significa morar bem?
Morar bem, para mim, é sentir-se super acolhido num espaço; é estar cercado de coisas que te fazem feliz, seja lá o que for: objetos afetivos, pessoas queridas, memórias, móveis confortáveis etc. A nossa casa é o nosso abrigo seguro no mundo e morar bem é sentir-se feliz, em paz e representado nela.
Como está ou será a relação das pessoas com a casa?
Nestes tempos tão diferentes, voltamos a focar no lar, na família e nas pessoas que amamos. Revimos hábitos e buscamos uma vida com mais significado. Penso que mesmo depois desse período, vamos continuar nesse ritmo.
Sim, é bem verdade que o momento impôs uma reflexão às pessoas sobre o real papel que a casa tem a cumprir nas nossas vidas e a relação das pessoas com este local se intensificou e ganhou mais importância.
Nos tornamos conscientes de que a nossa casa é um refúgio. Num mundo onde a insegurança é uma constante, estar em casa é estar no local mais seguro, é ali que nos sentimos protegidos e tranquilos.
Queremos estar num ambiente que gostamos e onde nos sentimos bem, estamos em busca de ter mais conforto em casa, mais praticidade e mais representatividade de nós mesmos nos interiores.
Quais as principais tendências e apostas dentro deste novo morar?
Constatamos várias questões comuns entre as pessoas durante esse novo momento dentro de casa, como por exemplo a falta de um espaço adequado para trabalhar e fazer reuniões, todos os pequenos reparos que precisavam ser feitos e eram adiados passaram a virar prioridade para tornar o ambiente mais adequado, sentimos falta do contato com o mundo exterior, especialmente o contato com a natureza, principalmente aqueles que moram em lugares pequenos ou apartamentos. A consequência dessa privação foi querer trazer, cada vez mais, as plantas para dentro de casa, criamos o gosto por espaços mais verdes, jardins internos, hortinhas, plantas em vasos ou até mesmo paredes verdes com jardins verticais.
A busca pelo conforto também é algo que percebemos como “tendência”. As pessoas, ao estarem confinadas nas suas casas utilizando mais frequentemente os seus móveis, ponderaram as questões do conforto precedendo o design. Assim, pode-se esperar por exemplo que um sofá com formato delgado e linhas retas dê lugar a um modelo mais confortável, macio e ergonômico.
Notamos também que este novo cenário abriu caminho para a simplicidade, para o senso de viver com o essencial, isto é, ter poucas coisas, mas de qualidade, portanto, duráveis e específicas para o gosto e as necessidades de cada um.
Acredito que adquirimos uma noção de consumo mais consciente, fugindo dos excessos e, atrelado a isso, a busca por mais significado em cada um dos elementos que compõem a casa, seja na escolha por materiais verdadeiros, honestos, que não tenham a pretensão de imitar outro material natural ou parecer ser o que não é.
No que depender de mim, quero criar projetos atemporais: linhas puras, materiais naturais e casas com história, com conforto e significado, despertando o sentimento de estar em um casulo particular para cada família que nos procura.
De que forma a arquitetura e a decoração podem contribuir com esta nova realidade que enfrentamos?
Arquitetura e a decoração podem ser ótimas aliadas para contribuir com a sensação de bem-estar do indivíduo, podem proporcionar conforto físico e psíquico resultando em mais qualidade de vida.
Um espaço bem arejado, iluminado e planejado é um espaço saudável de se viver. Quando você tem um lugar organizado, com espaço para cada coisa, você fica com a mente tranquila também, pois decorar não é somente uma preocupação estética, mas também funcional proporcionando um dia a dia mais prático.
E para dentro dos lares, quais serão os comportamentos e necessidades que devem surgir a partir de agora?
Penso que o cantinho do home-office será quase que uma obrigação em todas as casas. Agora descobrimos que conseguimos resolver muito do nosso trabalho remotamente, então uma bancada, algumas gavetas e uma boa cadeira serão sempre incluídas em algum espacinho da casa.
Penso também que após esse novo momento, iremos projetar mais espaços polivalentes, por exemplo, um quarto de hóspedes ou de solteiro que possa ser transformado em home office durante o dia e à noite o uso como dormitório. Espaços de estar prevendo mais a inclusão das crianças, podendo ser algum móvel para guardar os brinquedos, mas acredito que as crianças passaram a usufruir mais dos espaços que eram mais intocados anteriormente.
E claro, a varanda ou varanda gourmet, sempre que possível acho que os clientes terão esse desejo de ter um espaço para ficar e usar mais, um espaço que contemple o verde, um espaço para fazer um jantar mais informal e receber os amigos que tanto tiveram vontade de estar próximo.
E, ainda, uma questão que acredito que teremos que observar mais é a individualidade, pois alguns trabalhos passarão definitivamente a serem remotos e talvez até algumas escolas por um tempo, então criar espaços que permitam a privacidade para cada membro da família é algo que deve ser observado para que consigam realizar suas atividades individuais com conforto.